
Espelho, espelho-te eu…
Francamente, este post já o tenho idealizado há bastante tempo. Aliás, este tema já foi mote para vários momentos meus, onde me vi a pensar — e a experienciar — situações de “espelhamento”, ou como costumo brincar: “copy-pasterar alguém”. Pois bem, hoje partilho convosco um pequeno desabafo — que, convenhamos, não é segredo para ninguém. Como já escrevi ali em cima, é um tema que volta e meia me aparece, e eu cá estou, mais uma vez, a dar a minha opinião (atenção: vale o que vale, como sempre). Digamos que, como qualquer ser humano comum do século XXI, que viva em sociedade, já passei por situações em que senti que estavam a espelhar-me. E não foram poucas vezes, acreditem! A coisa ficou mais intensa (e até bizarra) depois de o espelhamento ter virado “moda”. Havia pessoas que, ao interagirem comigo, pareciam estar a jogar “procura as 7 diferenças”.
Que paciência… Sim, acredito que existem pessoas que praticam o espelhamento de forma subtil e intencional — até aí tudo bem. Mas também já vivi muitas situações em que a coisa era tão forçada, tão artificial, que em vez de criar conexão, causava o efeito contrário. Pessoas que, tentando vender-me algo, achavam que eu me identificaria mais com elas do que com o produto em si. Parecia que estavam à procura de fazer um “match” mental — que só existia na cabeça delas! Claro que, por já andar há muitos anos a estudar comportamento humano, comecei eu a espelhar o outro, só para ver até onde aquilo ia. E sim, aconteceu com homens e mulheres.
A verdade é que levar tudo ao pé da letra, sem sensibilidade e sem discernimento, transforma ferramentas de comunicação em armas de desconexão. E isso pode emburrecer relações, tanto pessoais como profissionais. Já tive casos em que a pessoa lia o meu blog (!) — sim, este mesmo que estás a ler agora — e usava trechos dele para se comunicar comigo. Zero criatividade. Zero espontaneidade. Tudo tão estudado que parecia que estavam a tentar fazer copy-paste da minha própria personalidade para me impressionar. Só que, adivinhem? Só me afastaram.
A teoria é correta: é natural aproximarmo-nos de pessoas com os mesmos valores, os mesmos princípios, interesses comuns. Claro que nos sentimos mais à vontade com quem tem algo em comum connosco. Mas uma interação comercial, ou uma entrevista de trabalho, não é lugar para pareceres um stalker de mesa do lado. Sim, já escrevi mais sobre amor e vínculos saudáveis. E sim, também cruzei-me com pessoas que usaram isso para forçar um rapport: eu a falar sobre amor, e a pessoa a contra-atacar com temas de violência, só para parecer “profunda” ou “relevante”. Só que era tão forçado, tão birrento, que era impossível ignorar a implicância implícita. É normal, e até bonito, quando passamos muito tempo com alguém e ficamos com expressões parecidas, manias, jeitos. Já dizia o ditado: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”. Ou ainda: “Os dois que dormem no mesmo colchão tornam-se da mesma condição.” Isso sim é natural. É fluido. É harmonia. O que é uma pena é quando se tenta imitar o outro de forma forçada, quase a ridicularizá-lo, em vez de criar empatia e aproximação.
Uma coisa é certa: o mundo das relações humanas só é complexo para quem o quer complicar. O que é Espelhamento? Espelhamento é a técnica de refletir sutilmente o comportamento do outro — postura, tom de voz, ritmo da fala, expressões faciais — para criar sintonia e empatia.
Como fazer bem:
- A pessoa fala devagar e de forma calma → tu ajustas o teu ritmo, sem parecer que estás a imitar.
- A pessoa usa muitos gestos ao falar → tu também usas um pouco mais de expressividade corporal.
- Ela cruza as pernas → tu, algum tempo depois, cruzas as tuas também (sem fazer imediatamente, para não parecer forçado).
Como NÃO fazer:
- Copiar cada gesto logo a seguir → parece uma caricatura.
- Usar o mesmo vocabulário técnico ou gírias sem naturalidade → soa falso.
- Tentar espelhar alguém com quem não tens afinidade real só para “vender” algo → cria desconfiança.
O que é Rapport?
Rapport é o estado de conexão, confiança e harmonia entre duas pessoas. Quando há rapport, a comunicação flui e ambas sentem-se compreendidas.
Como criar:
- Escutar com atenção genuína (não interromper).
- Usar perguntas abertas que mostrem interesse real.
- Demonstrar empatia — validar o que a pessoa sente ou pensa, mesmo que não concordes.
- Adaptar o teu estilo ao da pessoa (mais formal ou mais descontraído, por exemplo).
O que evita o rapport:
- Fingir interesse só para conseguir algo em troca.
- Imitar o outro de forma forçada, como se fosse uma técnica de manipulação.
- Usar rapport como “truque de persuasão” sem autenticidade → o outro sente.
Em resumo: Espelhamento e rapport funcionam quando vêm de um lugar de interesse real, escuta ativa e respeito mútuo. Se o objetivo é manipular ou forçar conexão, o resultado será o oposto.
Carolina Machado Borges
