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A Comunicação: A Ponte que Une ou o Abismo que Separa


A comunicação é, sem dúvida, um dos instrumentos mais poderosos da existência humana. É o veículo que nos permite construir pontes — ou, por vezes, derrubá-las. Existe uma expressão antiga que diz: “As palavras têm tanto poder para ferir como para curar.” E não podia ser mais verdadeira.

Em cada palavra que proferimos, transportamos intenções, emoções, crenças e até feridas.
A forma como escolhemos comunicar pode tranquilizar um coração ansioso ou inflamar um ambiente já tenso.
Num tempo em que a velocidade da informação ultrapassa a profundidade das relações, comunicar com consciência torna-se um verdadeiro acto de coragem e empatia.

A comunicação vai muito além das palavras. Está presente nos gestos, nos olhares, nos silêncios.
Está no que escolhemos dizer, e também naquilo que optamos por calar.
Está em como escutamos o outro — se ouvimos para responder ou para realmente compreender.

Um ponto crucial da comunicação é que cada pessoa é um universo — com a sua história, as suas dores, os seus filtros e formas de interpretar o mundo.
Por isso, os mal-entendidos não são excepção, mas parte natural da convivência humana.
Nessas situações, ferramentas como a mediação e o diálogo restaurativo ganham uma importância vital.
Estas abordagens convidam-nos a sair do terreno do julgamento e a entrar no espaço da escuta activa, do reconhecimento mútuo e da responsabilização.
A mediação cria um espaço seguro, onde as palavras podem ser reorganizadas e os significados resgatados, enquanto o diálogo restaurativo procura reconstruir laços, reparar danos e restabelecer a confiança — não apenas por meio de desculpas, mas através de compreensões profundas.

Exemplos práticos de mediação eficaz

  • Contexto escolar: Quando ocorrem conflitos entre alunos, como casos de bullying, a mediação pode ser conduzida por um professor, orientador ou mediador treinado, que reúne ambas as partes para exporem os seus sentimentos e percepções.
    O objectivo não é identificar culpados, mas sim permitir que todos se sintam ouvidos e cheguem, em conjunto, a uma solução que promova o respeito mútuo.
  • No local de trabalho: Em equipas com conflitos frequentes ou falhas de comunicação, a mediação — realizada, por exemplo, pelo departamento de recursos humanos — pode ajudar as partes envolvidas a compreenderem o impacto das suas acções e a encontrarem soluções construtivas para o futuro.

Exemplos práticos de diálogo restaurativo

  • Conflitos familiares: Imaginemos dois irmãos que carregam mágoas antigas. O diálogo restaurativo cria um espaço protegido onde cada um poder partilhar a sua versão dos factos, expressar emoções reprimidas e escutar o outro com empatia, promovendo assim um espaço para a reconciliação.
  • Ambiente organizacional: Num contexto profissional, por exemplo, entre dois colegas que deixaram de se falar após um mal -entendido grave, o diálogo restaurativo pode ser facilitado por alguém neutro (como um gestor ou mediador externo).
    O processo cria um espaço estruturado onde ambas as partes têm oportunidade de expressar como se sentiram, reconhecer o impacto das suas acções e trabalhar, juntas, para restabelecer a confiança e a colaboração.

Comunicação não-violenta: o diálogo que transforma

No universo da comunicação, fala-se também frequentemente da Comunicação Não-Violenta (CNV), um modelo desenvolvido por Marshall Rosenberg. A CNV convida-nos a comunicar com autenticidade e escutar com empatia, mesmo em contextos de tensão. Baseia-se em quatro etapas fundamentais: observar sem julgar, identificar os sentimentos, reconhecer as necessidades e formular pedidos concretos.

Exemplos de comunicação não-violenta

  • Em relações pessoais: Em vez de dizer “Tu nunca me ligas nenhuma!”, a CNV sugere algo como: “Quando estou a falar e estás no telemóvel, sinto-me ignorado. Preciso de mais atenção neste momento. Podemos conversar sem distracções por alguns minutos?”
  • No ambiente profissional: Em lugar de afirmar “O teu relatório está péssimo”, uma abordagem não-violenta poderia ser: “Notei que alguns dados no relatório estão desactualizados. Para garantir a qualidade final, será possível rever esses pontos até amanhã?”

A boa comunicação não elimina os conflitos — transforma a forma como lidamos com eles.
Comunicar bem não é apenas uma competência técnica; é um compromisso com a escuta, com a verdade e com o respeito pelo outro. É entender que cada troca tem o potencial de deixar uma marca — positiva ou negativa.

Por isso, vale a pena reflectirmos sobre como estamos a comunicar.
Estamos a construir pontes? Ou estamos a erguer muros à volta das nossas certezas? Estamos a escutar verdadeiramente? Ou apenas à espera da nossa vez para falar?

A comunicação é um espelho do nosso interior. Melhorá-la é, em grande parte, melhorar-nos a nós próprios.

“Silêncio e sorriso são duas poderosas ferramentas …”

 



Carolina Machado Borges

 

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